sábado, 12 de fevereiro de 2011

O dia depois da queda de Mubarak: O Egito começa a ser um país livre

Informações da revista ISTOÉ

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Hosni Mubarak repetiu a sina de muitos tiranos ao fugir com a família na sexta-feira rumo ao balneário de Sharm el-Sheik, na península do Sinai, de onde anunciou sua renúncia. Três décadas de um regime opressor e corrupto terminaram sob intensos protestos populares, que obrigaram o ditador a abandonar o palácio de governo pela porta dos fundos. Na noite anterior, Mubarak, aos 82 anos, tentou uma última cartada ao convocar rede nacional de tevê para dizer que ficaria no cargo até as eleições de setembro. Mas seu pronunciamento só serviu para engrossar o coro dos descontentes, que aos milhares voltaram às ruas do país e acamparam na praça Tahir, no centro do Cairo. Confirmado o adeus, o ex-chanceler Mohamed El Baradei, líder da oposição, sintetizou o sentimento de vitória dos manifestantes. Este é o maior dia da minha vida. O país foi libertado, disse. A queda de Mubarak marca o início de uma nova era para o Egito e consolida a crise no mundo árabe, já que o governo egípcio era peça-chave no tabuleiro político regional, por seus profundos vínculos com os Estados Unidos e o único aliado de Israel na região.

A longa ditadura egípcia é a segunda a ruir em menos de um mês, depois da queda do tunisiano Zine El Abdine Ben Ali, em 14 de janeiro, e certamente animará as massas descontentes em lugares como Mauritânia, Argélia, Jordânia, Síria e Iêmen. As razões dos protestos, aliás, são as mesmas: desemprego, pobreza, aumento do custo de vida, censura e violações de direitos humanos.

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O vento forte que transformou o destino do Egito deve, a partir de agora, ser canalizado para correntes políticas, inclusive a Irmandade Muçulmana, que farão um esforço conjunto para construir um novo pacto nacional. Embora a renúncia de Mubarak tenha sido anunciada por seu vice, Omar Suleiman, o poder interino será exercido pelo Conselho Supremo das Forças Armadas, que há uma semana passou a ser o único interlocutor válido dentro e fora do país. É da caserna que emana o poder político desde o fim da monarquia, em 1952. Mas, constitucionalmente, as Forças Armadas egípcias não podem assumir um governo interino, alerta o analista egípcio Talat Musallam, que é militar aposentado. Nada impede, no entanto, que o Conselho Supremo das Forças Armadas designe um militar para assumir a Presidência. 


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Seja como for, caberá ao governo interino a convocação de novas eleições presidenciais, que devem acontecer já sob novas regras, em no máximo dois meses. Para isso, será necessária uma reforma constitucional urgente, além da suspensão imediata das leis de exceção em vigor desde 1981. Os Estados Unidos, principal aliado do Egito, prometeram apoiar a transição, mas cobraram clareza. O governo egípcio deve mostrar um caminho crível, concreto e inequívoco em direção a uma democracia genuína, disse o presidente Barack Obama, pouco depois do pronunciamento de Mubarak no fim da noite da quinta-feira. Fontes ligadas às negociações no Egito disseram que a saída de Mubarak vinha sendo articulada pela Casa Branca com o Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito. As conversas de bastidor ocorreram ao longo da semana, com a participação de Moscou, Pequim, Riad e Beirute.

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O Egito também precisará de apoio internacional para reativar sua economia, paralisada após 18 dias de protestos, com greves no serviço público, fechamento de bancos e suspensão das atividades turísticas. Segundo estimativas de bancos privados, o país árabe perdeu ao menos US$ 10 bilhões no período. Uma situação nada confortável, considerando que o antigo governo já planejava emitir novos títulos da dívida pública para captar US$ 2,5 bilhões no mercado. A questão econômica funcionou como estopim dos protestos populares. E exige providências urgentes, já que os problemas não estão resolvidos com a renúncia de Mubarak. 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

11 de fevereiro de 2011: Após 18 dias de protestos, chega ao fim a ditarua de 30 anos de Hosnir Mubarak no Egito

Informações dos portais G1, R7, Terra e El País

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Neste 11 de fevereiro, o mundo tomou conhecimento de um fato histórico: depois de três décadas no poder, Hosni Mubarak renunciou ao cargo de presidente do Egito e entregou o poder a um conselho militar.

Eram seis da tarde no Cairo, duas da tarde em Brasília, quando o vice-presidente, Omar Suleiman, anunciou que Hosni Mubarak decidiu renunciar e que o país será dirigido por um conselho das Forças Armadas.

Foi a notícia que milhões de egípcios esperavam. A multidão na Praça Tahrir explodiu em lágrimas de esperança e felicidade.

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Nas ruas do Cairo, bandeiras, buzinas e fogos de artifício celebravam a libertação de um regime que durou 30 anos. Os manifestantes cantavam e gritavam eufóricos.

Foi um desfecho histórico de um dia que tinha começado com egípcios extremamente descontentes com as declarações da noite de quinta de Mubarak.

Nesse último discurso, ele disse que iria permanecer no cargo até as eleições de setembro e irritou os manifestantes. Na manhã desta sexta-feira, eles reforçaram os protestos, inclusive perto do palácio presencial.



Antes do anúncio da renúncia, comandantes militares do país afirmaram que o Egito terá eleições livres e que as leis de emergência que vigoram no país serão revogadas assim que a crise política esteja resolvida.

Os protestos no Egito contra Hosni Mubarak começaram no dia 25 de janeiro. A Praça Tahrir, no Centro do Cairo, foi o principal palco das manifestações.

No início, o governo egípcio tentou impedir os protestos, suspendendo os serviços de internet e de telefonia celular e Mubarak anunciou que não concorreria à reeleição em setembro. Mas os protestos só aumentaram. Os militares acompanhavam tudo, mas não interferiram.

Na semana passada, partidários de Mubarak invadiram a praça e houve uma batalha campal, que terminou com dezenas de pessoas feridas, inclusive jornalistas de vários países. Alguns jornalistas, dois brasileiros entre eles, foram presos por agentes de segurança. Segundo grupos de direitos humanos, cerca de 300 pessoas morreram nos confrontos.

Nesta sexta-feira, momentos antes do anúncio de Omar Suleiman, agências de notícias relataram que Mubarak teria ido do Cairo para o balneário egípcio de Sharm El-Sheikh.

A rede de TV Al Arabyia informou que o ministério será destituído e que o parlamento egípcio será dissolvido. Segundo a imprensa internacional, o conselho militar que vai governar o Egito será comandado pelo atual ministro da defesa, Mohamed Tantawi.

A renúncia de Mubarak foi acompanhada com atenção no Oriente Médio. Desde o início da revolta popular, o governo de Israel vinha acompanhando com cautela a situação do país vizinho.

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No início da semana, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chegou a advertir sobre os riscos de o Egito ser governado por extremistas islâmicos. Nesta sexta, um representante do primeiro escalão disse apenas que o governo de Israel espera que a renúncia de Mubarak não provoque mudanças nas relações pacíficas entre os dois países.

Houve manifestações de apoio aos egípcios no Líbano, na Jordânia e na Cisjordânia. O grupo palestino Hamas, que governa a Faixa de Gaza, cumprimentou o que chamou de início da vitória da revolução egípcia.

O governo do Qatar declarou que a transferência de poder para um conselho militar é um passo importante e positivo.

Já o chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, afirmou que a saída de Mubarak é um novo capítulo na história do Egito.

A REPERCUSSÃO NOS EUA



Hosni Mubarak assumiu a presidência do Egito logo depois de uma tragédia nacional. De Washington, o correspondente Luís Fernando Silva Pinto mostra que isso tem muito a ver com o apoio que Mubarak recebeu do governo dos Estados Unidos durantes as três décadas seguintes.

Muhammad Hosni Sayyid Mubarak era vice do presidente egípcio Anwar Sadat, assassinado por militantes islâmicos durante uma parada militar no Cairo, em 6 de outubro de 1981. Tomou posse oito dias depois.
Praticamente desconhecido na época, ninguém imaginava que ele fosse conseguir se manter no cargo por quase 30 anos.

Mubarak conquistou, mesmo contra a vontade da maioria dos egípcios, a posição de aliado dos Estados Unidos por levar adiante o histórico acordo de paz com Israel assinado por Sadat em 1979.

Com o acordo, o Egito se tornou o primeiro país árabe a reconhecer o estado de Israel, sendo seguido, anos mais tarde, pela Jordânia.

Hosni Mubarak governou o Egito com base numa lei de emergência que dá plenos poderes ao Estado, violando direitos básicos dos cidadãos.

Ele argumentava que era necessário ter o controle total para combater militantes islâmicos que promovem, com frequência, atentados no país e teriam a ambição de tomar o poder.

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De uns anos pra cá, Mubarak começou a sofrer pressões internas e dos Estados Unidos para adotar um regime democrático. Sempre resistiu.

Desde que assumiu o poder, venceu três eleições como candidato único. Na quarta, em 2005, cedeu à pressão americana para admitir candidaturas rivais. Mesmo assim, houve novas acusações de que o pleito foi manipulado para favorecer Mubarak.

Para a Casa Branca, a queda do ditador foi um alívio. Nos primeiros dias de protesto, o governo americano não deu sinais claros de que iria abandonar Mubarak e acabou correndo o risco de perder a credibilidade com o povo egípcio. Só depois da primeira semana, o governo Obama começou a falar em transição pacífica para a democracia.

Nos bastidores da crise, o Pentágono foi mais ativo do que o próprio Departamento de Estado. A aposta foi a de que os militares egípcios acabariam assumindo o poder, como aconteceu.

Anualmente, eles recebem mais de US$ 1,5 bilhão em ajuda militar dos Estados Unidos e agora o presidente Barack Obama pôde comemorar um momento histórico: Há poucos momentos na vida em que a gente tem o privilégio de presenciar a História sendo feita. Este é um deles", disse o presidente americano. Esta é uma nova geração de egípcios que usou a criatividade e a tecnologia para pedir um governo que atenda às suas aspirações.

Para Obama, entretanto, haverá dificuldades pela frente. O presidente pediu aos militares que assegurem uma transição pacífica com eleições livres e justas e afirmou que os Estados Unidos vão continuar a ser um grande parceiro do Egito.

Obama homenageou os manifestantes dizendo: Foi a força moral do seu pacifismo e não o terrorismo que venceu.

DIRIGIDA PELO BRASIL, ONU DIZ ESPERAR TRANSIÇÃO PACÍFICA

Ministros de vários países participavam do encontro do Conselho de Segurança das Nações Unidas quando foi anunciada a renúncia do ditador egípcio Hosni Mubarak. A reunião foi presidida pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antônio Patriota. Esta é a primeira vez em seis anos que o Brasil assume a presidência do conselho.

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A crise no Egito não fazia parte da pauta original do conselho, que discutiu temas propostos pelo Brasil: segurança e desenvolvimento. Mas inevitavelmente a renúncia do presidente Mubarak foi o assunto do dia.
O secretário geral da Onu, Ban Ki Moon, disse que respeita a decisão, tomada em benefício do povo egípcio e reiterou o pedido para que a transição seja pacífica e transparente.

O chanceler brasileiro disse que o Conselho de Segurança está acompanhando com atenção os desdobramentos da crise no Egito, tido como um país fundamental para a estabilidade no Oriente Médio.

De fato, há uma preocupação de que, se a instabilidade interna no Egito sair de controle, se houver elementos extremistas se aproveitando da situação, isso pode ter um impacto sim na região que já é das mais tensas do mundo e tudo o que nós não queremos ver são as tensões exacerbadas no Oriente Médio, declarou Antônio Patriota.

O Ministério brasileiro das Relações Exteriores declarou que o país espera que a transição política no Egito aconteça com respeito à liberdade e aos direitos humanos.

ONDA DE PROTESTOS TOMA CONTA DO ORIENTE MÉDIO

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A mudança no Egito faz parte de uma série de reivindicações por democracia em países árabes. Um processo que tem sido acompanhando com muita atenção em todo o planeta.

A Tunísia foi a primeira nação a sentir a pressão das massas na maior onda de protestos pela democracia no mundo árabe.

No dia 14 de janeiro, prevaleceu a vontade do povo: depois de 23 anos, o ditador Zine El Abidine Ben Ali deixava o poder pela porta dos fundos. E a Tunísia tinha um novo mártir, o símbolo da revolução: um feirante que botou fogo na própria roupa em protesto depois de levar uma surra de policiais que cobravam propina.

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Foi o começo do fim do silêncio: sete países do norte da África e do Oriente Médio também gritaram.
Depois da Tunísia, vieram protestos no Iêmen, Marrocos, Argélia, Líbia, Egito e Jordânia.

O rei jordaniano, Abdulah II, demitiu todo o ministério e nomeou um novo primeiro-ministro, encarregado de promover uma reforma política e social.

Mas nenhuma consequência foi tão significativa quanto a queda do presidente do Egito, país árabe de maior população.

As bolsas de valores reagiram positivamente à notícia que veio do Egito: os principais índices europeus fecharam o dia em alta e o preço do barril de petróleo caiu.

Na Alemanha, a primeira-ministra Angela Merkel prometeu apoio ao povo egípcio e disse que espera que essa renúncia conduza o Egito à liberdade.

Na França, onde se concentra uma das maiores comunidades árabes da Europa, houve comemoração. Liderados por egípcios que vivem em Paris, os manifestantes exaltaram a vitória do povo.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, pediu a realização de eleições livres e transparentes. A chefe de política estrangeira da União Europeia afirmou que Mubarak finalmente ouviu a voz do povo.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que este foi só o primeiro passo. Ressaltou que é importante que o poder seja devolvido aos civis assim que for possível. E botou a Grã-Bretanha à disposição, para ajudar a construir uma sociedade democrática, aberta e justa.

Minutos depois da renúncia de Hosni Mubarak, o Ministério das Relações Exteriores da Suíça informou que todas as contas do ex-presidente egípcio em bancos suíços estavam sendo bloqueadas.

Atitude semelhante foi tomada com as contas do ex-ditador da Tunísia. No caso de Mubarak, não se sabe ao certo quanto ele teria depositado na Suíça.

Os oposicionistas calculam que o patrimônio pessoal do ex-presidente, acumulado ao longo de 30 anos de poder, seja equivalente a R$ 50 bilhões.





sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A MAIOR TRAGÉDIA DA HISTÓRIA DO BRASIL

O Brasil chora os mortos da maior catásfrofe da sua história. Tanto ficialmente quanto no coração de todos os brasileiros, o país está de luto. O trágico filme das centenas de mortes pelas chuvas se repete com uma fatalidade nunca antes vista. O que falar diante disso? O Código reproduz abaixo a matéria de capa da revista ISTOÉ sobre a tragédia no Rio de Janeiro. No domingo, o blog volta a se atualizar com os vídeos e informações das edições especiais do Fantástico e do Domingo Espetacular.


SIGA AO VIVO MOSTRA CAOS NA REGIÃO SERRANA DO RIO EM TEMPO REAL

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Foi tudo muito rápido, como sempre é. Não se passou uma dúzia de horas entre o início do que parecia ser mais uma simples tempestade de verão e as avalanches de lama, pedras e paus que colocaram fim à vida de mais de 500 pessoas e devastaram cidades inteiras da região serrana do Rio de Janeiro. Foi assim, de repente, que a cadeia de montanhas que encantam os cariocas há mais de um século abandonou a aparência sólida e se liquefez. No caminho entre as escarpas íngremes e verdes da Serra do Mar até os vales que a formam, a terra em estado líquido não fez distinção e levou com ela tudo o que estava à sua frente: árvores, pedras, casas, carros e uma quantidade aterradora de vidas. Quando amanheceu, o mundo ali era outro. Em Teresópolis, onde antes havia casas, ruas, escolas, um macabro cemitério ao livre surgiu. O charmoso centro de Nova Friburgo deu lugar a uma camada espessa de lama, detritos e entulhos, escondendo sob ela dezenas de corpos. Em São José do Vale do Rio Preto, o riacho que corta a cidade e serviu de inspiração para Tom Jobim escrever os célebres versos de Águas de Março transformou-se em uma corredeira de águas caudalosas, que com sua força destruiu casas, pontes e vidas. Foi assim, com uma rapidez e uma fúria impressionantes, que a maior tragédia natural da história brasileira encontrou seu desfecho numa típica noite quente e úmida de verão.

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Sua gênese, no entanto, foi lenta e gradual, e o resultado, previsível. Marcada por características geológicas e climáticas instáveis, a região serrana do Rio de Janeiro está acostumada a recolher corpos sob a terra úmida. Tem sido assim desde as primeiras ocupações, mostram relatos de dom Pedro II, que, como faz hoje a elite carioca, subia à serra para fugir do calor inclemente que castiga a cidade do Rio de Janeiro no verão. Nem mesmo a carnificina de 1967, quando 300 pessoas morreram nas mesmas situações de agora, foi o bastante para se aceitar que, ali, a natureza não se intimida para determinar o curso da vida. Até agora, o resultado dessas tragédias se resume a uma ladainha cíclica de promessas que raramente se traduzem em ações concretas e que sempre terminam nos cemitérios. Foi assim em 1967, como foi em 2008, em Santa Catarina, ou no ano passado, em Angra dos Reis e em Niterói. Não há desculpa para colocar a culpa nas chuvas, o Brasil não é Bangladesh, diz a diretora do Centro para a Pesquisa de Epidemiologias da ONU, Debarati Guha-Sapir, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no mesmo dia em que a Organização das Nações Unidas colocava o acidente fluminense como o décimo mais letal entre os deslizamentos de terra da história.

Debarati tem razão. Ao contrário do país espremido entre a Índia e Mianmar, há dinheiro, tecnologia e mão de obra farta no Brasil para evitar que tantas pessoas percam a vida em uma região tão propensa a acidentes. Dois casos recentes mostram como investimento, controle da ocupação do solo e preparação podem poupar vidas. Na Austrália, neste início de ano, choveu mais do que na região serrana do Rio. No entanto, apenas 19 pessoas perderam a vida por lá. Na Ilha da Madeira, uma região também montanhosa, choveu no ano passado tanto quanto choveu em Nova Friburgo, a cidade mais atingida nesta última tragédia. O número de mortes em Portugal não chegou a 10% das vítimas fluminenses.

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Nesses tempos de pânico ambiental, as mudanças climáticas têm sido os algozes perfeitos dos governantes para justificar o injustificável. Estamos falando de décadas e décadas de administrações omissas, diz o cientista político Luiz Werneck Viana. A fatura pela falta de investimentos chegou, enfim, mais alta do que nunca. Os governantes têm uma visão míope que só vale para os quatro anos de mandato, critica David Zee, coordenador de mestrado em meio ambiente da universidade carioca Veiga de Almeida. Estado, município e federação têm obrigação de trabalhar de forma integrada, mas todas essas esferas têm sido historicamente omissas.
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Como foram, mais uma vez, neste início de ano. Não há quem conteste que o volume de chuvas que castigou as cidades fluminenses foi de uma intensidade rara. Em menos de 12 horas choveu praticamente o mesmo que era esperado para todo o mês em Nova Friburgo. Mas o inadmissível em um caso como esse é a absoluta falta de preparação e coordenação do poder público para mitigar os efeitos de um desastre iminente e, pior, a completa ausência de planejamento prévio para lidar com suas consequências. Tudo parece ser feito de última hora, como se as soluções só pudessem ser encontradas diante dos acontecimentos. Não há dúvida de que as chuvas da madrugada da quarta-feira causariam deslizamentos e inundações, mesmo que não houvesse ocupação irregular do solo. Os danos materiais também são justificáveis por conta da dimensão das chuvas. Mas, se um simples sistema de alerta funcionasse, o número de vítimas poderia ser reduzido de forma drástica. A tragédia fluminense é repleta de exemplos de como nada disso foi feito, nas duas pontas da incompetência administrativa.

Na tarde de terça-feira, horas antes do início do temporal, o radar instalado pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro no ano passado já emitia dados mostrando que uma chuva de grande intensidade se aproximava da região serrana. O equipamento, conhecido como Doppler, foi adquirido após as chuvas que mataram mais de uma centena de pessoas na região metropolitana da capital fluminense e tem capacidade de cobrir um raio de 250 quilômetros, quase duas vezes a distância que separa o Rio de Nova Friburgo. Mas, por razões que ainda não estão claras, não havia técnicos disponíveis ou capacitados para analisar esses dados e disparar o alerta. Já o Instituto de Pesquisas Aeroespaciais, o Inpe, informou à Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro que um grande temporal estava se formando na região serrana. O órgão recebeu o aviso por volta das 15 horas de terça-feira e diz que emitiu o alerta às cidades por meio de e-mail. Mas a comunicação parece não ter sido benfeita. Os agentes da Defesa Civil de Teresópolis, onde mais de 200 pessoas perderam a vida, garantem que não receberam nada.

A tragédia desta semana só é atípica no número de mortes. No mais, é uma simples repetição do que ocorre ali há mais de um século, e que vem se agravando com o aumento da população. No entanto, horas após mais de cinco centenas de corpos estarem espalhados por toda a região, o poder público parecia não ter nenhum plano para lidar com uma situação como essa. Não havia, por exemplo, tarefas predefinidas para os atores públicos, como é de se esperar em uma região que anualmente sofre com desastres exatamente iguais a esse. Tudo parece ter sido resolvido de última hora. E as autoridades pareciam se orgulhar ao informar que a Marinha havia emprestado dois helicópteros, que o Bope, especializado no combate armado contra traficantes, havia liberado ônibus ou que o Exército enviara caminhões frigoríficos para dar conta do número extraordinário de corpos que eram recolhidos. 

 É preciso criar os agentes comunitários, as brigadas locais em cada distrito, em cada município. São essas pessoas que dão as diretrizes em situações como essa e mostram o que fazer até a chegada do socorro oficial, diz a vereadora Andréa Gouveia Vieira. A família do marido de Andréa é proprietária do sítio que fora alugado para a estilista e designer Daniela Conolly e parentes. Invadida por água, lama e entulho, a casa foi soterrada junto com Daniela e mais sete membros de sua família. A casa existia há mais de 70 anos. Nunca aconteceu algo dessa magnitude lá. O rio subiu em uma velocidade enorme, foi um volume de água impossível de ser contido. Havia 18 pessoas na casa, 14 morreram, disse a vereadora. Embora seja política, seu discurso é o mesmo de qualquer cidadão comum: cansaço com as promessas nunca cumpridas de reflorestamento, limpeza dos rios, remoção de pessoas de áreas de risco.

Como em qualquer acidente, a causa não é uma só. É uma soma de erros de várias origens, entre as quais o inaceitável descaso com o meio ambiente. Gerações foram criadas sem que houvesse uma preocupação ambiental. Houve uma ocupação desordenada com construção de residências em encostas, aponta Luís Eduardo Peixoto, presidente do comitê de ações emergenciais de Petrópolis.

Aquecimento global e desmatamentos são algumas das causas de tragédias que têm acontecido no mundo. O aumento da população urbana é outra ponta do desequilíbrio. A pesquisadora mineira Waleska Marcy Rosa, 41 anos, do Centro Universitário Serra dos Órgãos, fez, em 2007, um estudo comparativo entre os municípios de Teresópolis e Petrópolis e concluiu que a ocupação das áreas de encosta dos dois municípios cresceu demasiadamente a partir da década de 1960, à sombra da fraca atuação do poder público, que, além de não conseguir impedir as ocupações irregulares, muitas vezes até as regulamentou. É a desgraça do populismo, a permissividade de deixar a ocupação de áreas de uma maneira irresponsável como se eles (políticos) fossem aliados dos mais pobres, comenta o governador Sérgio Cabral, obviamente excluindo-se da culpa que aponta nos outros governantes.


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Não há como, no entanto, negar que a responsabilidade maior é do poder municipal. São as prefeituras que regulam o uso do solo, autorizam construções e fiscalizam regiões de risco, diz o cientista político Ignácio Cano, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para ele, a situação chegou a um ponto em que é preciso uma política com um componente repressivo que impeça a construção irregular e remova quem está em área de risco. A própria presidente Dilma Rousseff, que esteve na cidade na quinta-feira 13, reforça essa visão. Ocupação irregular no Brasil não é exceção, é regra. Segundo o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, no ano passado foram gastos 13 vezes mais com a resposta do que com a prevenção. Ele afirma que houve um investimento de R$ 2,3 bilhões para remediar e apenas R$ 167,5 milhões para prevenir. Castello Branco critica também a má distribuição de recursos federais. Do montante do ano passado, 50,5%, mais de R$ 80 milhões, foram destinados à Bahia, enquanto o Rio ficou só com 0,6%, ou seja, R$ 1 milhão. São Paulo teve 5,6% e Minas Gerais, 6,2%. Ao contrário do Rio, a Bahia não é um Estado com histórico de desastres ambientais tão frequentes como o Rio. Mas a diferença entre os dois Estados é que o ministro responsável pela distribuição dos recursos, Geddel Vieira Lima, é baiano e tinha como objetivo principal no ano passado ser eleito governador do Estado que tanto privilegiou com a distribuição dos recursos.


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O resultado disso se vê em todas as esferas do poder público, que não consegue responder a uma crise das proporções da região serrana fluminense. Nos ineficientes e sucateados Institutos Médicos Legais das cidades atingidas, o cheiro da morte se espalhava pelos corredores e pelo entorno dos prédios. Tenho que passar pomada com cheiro de menta no nariz para poder trabalhar. O mau cheiro está insuportável, disse um dos funcionários responsáveis pelo transporte dos corpos em Nova Friburgo, que prefere não se identificar. Até a manhã da sexta-feira 14, a cidade chorava inacreditáveis 216 mortos na tragédia. A todo momento, caminhões e caminhonetes chegavam com corpos ao Instituto de Educação de Nova Friburgo, improvisado para funcionar como Instituto Médico Legal. Dia e noite, a porta da instituição ficava tomada por pessoas que buscavam saber se entre os mortos há algum parente ou amigo. Não saio daqui enquanto não souber notícia de minha avó, disse, ainda em estado de choque, a comerciária Regina Soares, 28 anos. Com tantos cadáveres e condições precárias, o trabalho no local tem sido sacrificante em Nova Friburgo e mostra que não há nenhuma preparação para enfrentar problemas como esse. Nem mesmo um plano de contingência para lidar com um número de mortos tão grande, algo que não é inédito por ali, parece haver.

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Sem a resposta rápida e eficaz do poder público, a população se divide entre um estado de absoluta catatonia e de desespero. No centro de Nova Friburgo, famílias de várias classes sociais perambulavam nos dias que sucederam ao desastre com bolsas e sacolas em punho, buscando refúgio. Uma delas era o pedreiro Andrei Silva, 26 anos, cuja casa, localizada no bairro do Jardim Califórnia, foi inundada pela chuva e ficou prestes a desabar. Ele deixou o imóvel com sua mãe e duas irmãs. Não sei para onde vou, mas para lá não volto mais, prometeu. Não longe dele, a advogada Lia Vieira caminhava com os pés envoltos em sacolas de supermercado. Perdi minha casa e meu carro no desabamento, contou.

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Ao menos nesse momento, o desejo de Lia é compartilhado por milhares de famílias que perderam todos os seus bens e, principalmente, familiares. Assim, como nesse momento, os governantes prometem resolver os problemas emergenciais e criar condições para que tantas mortes não se repitam. Cabe agora esperar, e cobrar, que elas não sejam carregadas pelas águas de março que todos os anos fecham o verão.

Ao lado de Daniela Albuquerque, Hebe é apresentada na Rede TV

Hebe fez hoje sua estreia na Rede TV. Ainda não foi em programa próprio, mas como convidada especial do Manhã Maior de Daniela Albuquerque.

Antes de receber uma homenagem no programa de Dani, Hebe deu entrevista coletiva para contar detalhes de como será sua atração na única emissora 3D do Brasil. Sua estreia ficou acertada para o dia 15 de março, sendo que a gravação do programa acontece no dia dia 1 em um jantar 500 convidados e a participação de uma orquestra. O objetivo da Rede TV é que a Globo libere Roberto Carlos para fazer uma participação.

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Hebe posa ao lado do inconfundível microfone azul da Rede TV

Durante a coletiva, Hebe distribuiu alfinetadas ao SBT: "Deixei de ser uma mulher de segunda, para ser uma mulher das terças. E sempre às 22h. Vocês não vão precisar adivinhar. Meu horário não era respeitado e isso prejudicava meu público. Além disso, meu programa era muito curto. Mas saí sem raiva, continuo falando com todo". Ela ainda disse que não acredita estar na Rede TV. Vamos encarar isso como elogio, né?

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Apresentadora foi recebida pela musa da emissora, Daniela Albuquerque

Lolita Rodrigues, Agnaldo Rayol e Jair Rodrigues estiveram presentes para prestigiar Hebe. Mas nada que fizesse a estreia da loira passar do 1 ponto na audiência. 6° lugar no ranking de audiência.

Entre altos e baixos, Passione chega ao fim como sucesso

Chega ao fim hoje mais uma novela das 9 (se até a Globo passou a chamar assim, não sou eu que vou insistir no "das 8"). Passione ostenta a pior década da média (spoiler: Insensato Coração vai ter a pior média de sua década. E a melhor também), mas fez a Globo atingir picos de 55 pontos nessa semana enquanto a Record observava distante com míseros 4 pontos. Mas o que Silvio de Abreu fez de certo e de errado numa novela que tem média geral de fiasco mas termina com relativo sucesso?

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Elenco: Fernanda Montenegro, Mariana Ximenes, Werner Schunemann, Irene Ravache, Gabriela Duarte, Cleyde Yáconis, Tony Ramos... Até Giannechinni resolveu ir bem. Elenco que arrasou. Para lista fechar positivamente, só ficam faltando boas interpretações de Maitê Proença, Carolina Dieckmann e do péssimo Kaiky Britto.


Café com leite: Nada de mutantes (por falar em Mutantes, a reprise da novela também chegou ao fim hoje. Queria compartilhar meu luto com vocês), extraterrestres ou afins. Passione repetiu a história básica que estamos acostumados a ver em todas as novelas, mas sem a pedância da antecessora Viver a Vida.



Mistério: Na primeira fase, o segredo de Gerson. Na segunda, o batido mas que ainda funciona "quem matou?". A estratégia de manter segredos sobre assuntos tão importantes na trama foi um dos trunfos de Passione. O segredo foi uma decepção para o público, será que o assassino de Saulo também vai ser? Saberemos ainda hoje.